quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Joalheira Romana

Visionários, os romanos sempre foram avançados para a sua época. Deixaram um verdadeiro legado para a humanidade, seja na organização dos seus exércitos, táticas bélicas, na sua estrutura social ou na joalheria. No mundo das jóias, entre tantas heranças da Civilização Romana, uma das mais presentes no nosso dia-a-dia são as alianças. Foram elas que criaram o anel de comprometimento, assim como a própria celebração do casamento.

Após conquistar vários reinos, Roma tornou-se a capital econômica e financeira e o principal palco para os artistas do mediterrâneo. Em busca de riquezas e glórias, muitos deles migraram das partes mais variadas do império para oferecer sua arte para os novos ricos
da sociedade. O ourives era uma das figuras mais populares da vida cotidiana do Império Romano. A introdução, por volta de 600 A.C., da moeda de metal precioso certamente ajudou o joalheiro, que trabalhava com um bem de aceitação imediata no mercado, o ouro, utilizado para as mais diversas negociações. Até mesmo pessoas do povo tinham o hábito
de adquirir o nobre metal, fato que pode ser comprovado através de vários documentos
dos períodos Romano e Helenístico.

O Império Romano dominou reinos onde a arte helenística predominava. No chamado Oriente próximo, principalmente na Síria, os primeiros séculos da Era Cristã ainda traziam traços dessa cultura, cuja decoração efusiva dominava. Para contrapor-se a essa arte, a joalheria romana inspirou-se no estilo italiano, mais austero e sóbrio. A ourivesaria etrusca, famosa pela perfeição de suas formas (geralmente lisas e sem rebuscamentos), havia caído em desuso e, em seu lugar, os artesões buscavam formas mais fortes, rígidas e perfeitas, como nos braceletes e brincos constituídos de simples hemisférios de ouro polidos. As gemas coloridas eram usadas, principalmente as pérolas e as esmeraldas, as favoritas da época. Nesse período, as granadas vermelhas brilhantes e os esmaltes multicoloridos, antigas coqueluches do período Helenístico, foram descartadas.

Há registros de poucas peças desse período. Grande parte desse acervo desapareceu ao longo do tempo e a maioria das jóias que restaram vêm, em sua maioria, de fora da Itália. Há algum material da Pompéia e das cidades próximas ao Vesúvio, que foram devastadas pela erupção do vulcão e 79 D.C. O restante das peças é de outras regiões, que pertenciam ao Império Romano: Ásia Menor, Síria e Levante. Há, ainda, alguns ornamentos que foram localizados em outras partes da Europa. Baseados em todos esses achados, especialistas conseguiram estabelecer uma unidade geral presente na joalheria romana.

O anel era a jóia mais utilizada nesse período, tanto pelas mulheres quanto pelos homens.
Ao que se sabe, era muito comum homens usarem mais que um anel. Na época da República, o anel de ouro era exclusivo para os senadores. Depois foi autorizado seu uso
aos cavaleiros do império e, posteriormente, a todas as pessoas que desejassem usá-lo. Influenciados pela tradição Helenística, criaram o anel de lacre com um brasão de ouro ou de pedra, utilizado para selar cartas ou documentos. Os soberanos, para demonstrar a extensão do seu poder, para emitir documentos, usavam selos de ouro, prata ou chumbo,
com pendentes em forma de semi-esfera e um cone de ouro ou coral.

Um fato interessante que eles detectaram foi a evolução da arte joalheira romana:
no começo, houve uma negação do período helenístico, tanto nas gemas utilizadas quanto nos conceitos estéticos. Mas, com o passar do tempo, as formas rígidas e perfeitas, características dos romanos, foram sendo abandonadas. E adivinhem em que fonte eles foram beber? Na tradição helenística, antes renegada, e no seu gosto pela ornamentação
e gemas coloridas.

Uma outra fonte de provas da excepcional joalheria romana está no Egito. Suas areias secas formaram o ambiente perfeito para a longevidade dos documentos registrados no papiro. Isso ajudou a esclarecer como funcionava o dia-a-dia dos egípcios sob a dominação romana. Entre esses documentos, encontravam-se várias transações envolvendo jóias. Há, por exemplo, o relato de uma negociação envolvendo a encomenda de um par de braçadeiras
de ouro, espiraladas, em forma de cobra. Há registro do pagamento em dinheiro pelo cliente, com o qual o ourives deveria comprar o ouro. Essas braçadeiras podem ser vistas em pares nos braços de mulheres em representações funerários do século I D.C., notadamente em diversas máscaras funerárias douradas.

A partir do século IV D.C., a joalheria romana mudou mais uma vez. Depois de absorver
a influência helenística, ela se curvou à iconografia cristã. Isso ocorreu devido ao aumento incessante de cristandade por todo o período. Essa iconografia muitas vezes acabou substituindo os designes pagãos, outras vezes adaptou-se a eles. Com isso, gemas coloridas continuaram populares, principalmente por substitutos feitos em vidros, por causa da carência de gemas reais. Isso às vezes era feito com o conhecimento do comprador, outras vezes, não: ele acabava comprando gato por lebre, mesmo.

A ourivesaria complexa, intricada, era muito apreciada. O trabalho com aberturas, perfurações, treliças em forma de laço de ouro, era uma das técnicas mais admiradas.
As moedas de ouro também passaram a ser usadas como ornamentos, principalmente em formas de anéis e penduradas em pendentes. Essa joalheria bizantina antiga enfatizava a riqueza e a afluência de seus usuários, o que chocava os padres cristãos mais tradicionais.

Mas a cristandade também inseriu novos motivos à joalheria, baseados em tradições antigas. Um exemplo interessante são os anéis bizantinos com biseis em forma de flores de lótus.
A flor de lótus era o símbolo da Virgem Maria e do nascimento de Cristo. Só que essa flor também era um símbolo egípcio tradicional, que representava o local de nascimento do jovem deus do sol, Horus. Como podemos ver, nem mesmo símbolos tipicamente cristãos não eram, por assim dizer "puros". Eles Também tinham sua influência pagã.

Por muito tempo, acreditou-se que, após o colapso do Império romano, a Europa mergulhou em uma era negra, que durou meio milênio. Esse período só acabou no final da Idade Média. Hoje, graças a uma reinterpretação da história, sabemos que isso não é verdade. A Idade Média não foi um retrocesso na história, um período obscuro que praticamente apagou as grandes conquistas dos períodos Helênico e Romano. Vários pensadores produziram obras fundamentais durante essa época. Diversos artistas criaram grandes obras de arte. E a joalheria é uma prova de que essa nova visão da Idade Média é correta.

Ao vermos as peças produzidas após a queda dos romanos, percebemos que sua evolução
é evidente. As jóias confeccionadas pelos Saxões, Merovíngios, Francos, Ostrogodos, Vikings e outros povos não ficam devendo nada para a produção anterior ou posterior a eles,
nem em termos de design nem mesmo no que se refere às técnicas utilizadas. As técnicas
da ourivesaria e da joalheria continuaram, sem nenhuma pausa, a evoluir gradualmente.
Do mundo antigo ao medieval, não só a parte técnica, mas também o design continuou a evoluir assim como os conceitos, como acontece

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