Uma das mais importantes revoltas da Regência no Brasil. Ocorre no Pará entre 1835 e 1840. De caráter fortemente popular, envolve sobretudo os moradores pobres das cidades e dos vilarejos ribeirinhos – os cabanos –, índios, negros e mestiços. A rebelião irrompe em Belém, em 7 de janeiro de 1835, com o assassinato das duas principais autoridades provinciais, o presidente e o comandante de armas. Os chefes cabanos formam um "governo revolucionário", liderado pelo fazendeiro Clemente Malcher, e anunciam a autonomia da província diante da Regência, até a maioridade de dom Pedro II.
Divergências internas, porém, provocam conflitos entre os próprios cabanos. Malcher é substituído por um líder popular, Francisco Vinagre. Em julho, tropas imperiais do Rio de Janeiro, com o apoio de mercenários ingleses comandados por John Taylor, entram em Belém e expulsam os insurgentes.
Governo popular – Em violenta reação, os cabanos retomam a capital em agosto e formam novo governo, de caráter ainda mais radical e popular, liderado por Eduardo Angelim. Proclamam a independência do Pará e a República e expropriam armazéns e depósitos de alimentos para distribuí-los entre a população pobre. A partir de maio de 1836, a repressão oficial ganha força, e o governo rebelde é destituído. Liderados por Antônio Vinagre, irmão de Francisco, que consegue escapar da repressão, os cabanos dispersam-se e refugiam-se no interior da província.
Mobilizando as populações ribeirinhas do rio Amazonas e do baixo Tocantins, os cabanos mantêm a rebelião até 1840. Nos seus últimos três anos estima-se que cerca de 30 mil cabanos foram mortos, a maioria homens.
Causas da revolta – Como todos os levantes do período regencial, a Cabanagem é uma insurreição provincial contra o governo central do Império, enfraquecido pela crise da Regência. Mas apresenta algumas características particulares. O Pará havia sido uma das províncias brasileiras mais envolvidas na luta pela independência, entre 1821 e 1823, o que fortaleceu em suas elites o espírito autonomista. Além disso, durante a colonização, o estado teve relações comerciais mais constantes com Lisboa do que com o Rio de Janeiro. Com a independência do país e a separação da antiga metrópole, fica difícil a situação econômica da província. Os grandes proprietários e comerciantes, muitos deles portugueses, queixam-se do excesso de impostos, da falta de incentivo às exportações e do alto preço dos escravos, apoiando inicialmente a sublevação dos cabanos. A população pobre, no entanto, é atingida duramente pelo agravamento das dificuldades econômicas. São suas necessidades e aspirações que sustentam a luta quando as elites retiram seu apoio, no momento em que lideranças populares assumem o controle do movimento
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